18/06/2013 - Atualizado 10h42min
Estudo foi realizado pela pesquisadora Luciane Rosa Feksa,do grupo de pesquisa em Bioanálise da Feevale

Em evidência atualmente, dada a ampla divulgação de que se ingerido na forma de cápsulas, in natura, ou mesmo em sua forma sólida, seria complemento nutricional adequado a dietas de emagrecimento por não induzir à obesidade e por não ficar estocado no organismo, além de acelerar a queima de gordura, o óleo ou azeite de coco pode não ser tão benéfico à saúde. Amplamente empregado na gastronomia asiática e na indústria cosmética, é classificado como um óleo vegetal, conhecido também como manteiga de coco, trata-se de uma substância graxa que contém cerca de 90% de gordura saturada, extraída mediante prensagem da polpa ou cerne dos cocos (Cocos nucifera). O óleo de coco apresenta um alto índice de ácido láurico, ácido mirístico e ácido caprílico, entre outros ácidos graxos saturados, classificados como prejudiciais à saúde, ensejando a proposta da pesquisa.

O projeto “Avaliação dos efeitos bioquímicos e dos mecanismos fisiopatogênicos envolvidos na obesidade induzida por dieta rica em lipídios em modelo animal”, desenvolvido na Feevale pela pesquisadora Luciane Rosa Feksa (foto), indica que o óleo de coco usado em dieta de emagrecimento pode trazer prejuízos à saúde. O estudo, que integra o grupo de pesquisa em Bioanálise da Instituição, foi realizado em modelo animal de ratos Wistar submetidos a três dietas durante quatro meses: dieta controle, dieta hiperlipídica com banha de porco (grupo obesidade) e dieta hiperlipídica com óleo de coco. A pesquisa foi desenvolvida pela Universidade Feevale a partir de 2011, com parceria da Universidade Federal do Rio Grande do Sul – UFRGS.
Segundo a pesquisadora os resultados indicam que os animais com dieta de óleo de coco não ganharam peso, diferente do grupo banha, que o aumentou em 34% comparado com o grupo controle. Foi constatado que a dieta rica em óleo de coco altera alguns parâmetros bioquímicos quando comparados ao grupo de controle, tais como: eleva os níveis de glicose sanguínea (12,8% no jejum e 52,9% 120 minutos após aplicação de solução de glicose), aumenta ácidos graxos livres na circulação (45%), eleva os níveis de colesterol (42,2%) e da enzima TGP (94,8%), esta última indicando dano hepático, confirmado por meio de histologia hepática que demostrou terem os animais apresentado esteatose hepática (depósito de gordura no fígado), porém sem ganho significativo de peso.
A pesquisa sugere que o uso frequente ou exagerado de óleo de coco pode trazer danos à saúde: “A dieta com uso frequente e exagerado do óleo de coco, apesar de não induzir à obesidade, altera o quadro glicêmico, podendo acarretar no desenvolvimento do diabetes”, diz a pesquisadora. O estudo completo tem previsão de publicação para este ano.
Obesidade – um problema de saúde pública
Obesidade é uma doença caracterizada por um excessivo acúmulo de gordura nos tecidos. Trata-se de um distúrbio que, além dos problemas de natureza estética e psicológica, constitui risco para a saúde. A obesidade aumenta em grande escala o risco de aparecimento, desenvolvimento e agravamento de outras doenças. Por essa razão a Organização Mundial de Saúde (OMS) encarou a obesidade como uma doença epidêmica global do século XXI. O resultado disso é o aumento de doenças crônicas como a diabetes, hipertensão arterial, elevação do colesterol, ansiedade e enfarte do miocárdio. Além disso, a utilização de dietas da moda, como a do óleo de coco, como forma de fugir da obesidade e do sobrepeso, pode acarretar outros problemas, como sugerido pela pesquisa da professora Luciane.
No Brasil, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) publicou, em agosto de 2010, os dados da Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF 2008–09), indicando que o peso dos brasileiros vem aumentando nos últimos anos. O excesso de peso em homens adultos saltou de 18,5% para 50,1% e ultrapassou, em 2008–2009, o excesso em mulheres, que foi de 28,7% para 48%. O Vigitel 2011 (pesquisa telefônica feita pelo Ministério da Saúde), apontava 15,8% dos brasileiros como obesos e 48,5% com sobrepeso, o que indica um crescimento muito grande em pouco tempo.
A pesquisa se mostra relevante por alertar aos profissionais da saúde e à população em geral que o óleo de coco, conquanto não induza à obesidade, pode trazer riscos sistêmicos em longo prazo para o organismo.