Pesquisa indica que 60% dos profissionais que combatem a Covid-19 pelo SUS, em Novo Hamburgo, estão com sintomas de exaustão | Universidade Feevale

Pesquisa indica que 60% dos profissionais que combatem a Covid-19 pelo SUS, em Novo Hamburgo, estão com sintomas de exaustão

11/08/2020 - Atualizado 14h29min

médico vestindo EPI

Estudo da Universidade Feevale, realizado no hospital de referência no combate à pandemia, ouve desde médicos até pessoal de apoio na linha de frente

Sintomas compatíveis com exaustão e síndrome de Burnout – este é o resultado preliminar preocupante em 60% dos entrevistados de uma pesquisa realizada com funcionários da área da saúde da cidade de Novo Hamburgo, que atuam na linha de frente do combate à Covid-19. Trata-se do estudo Estresse percebido e saúde mental no enfrentamento à Covid-19 entre profissionais de saúde da linha de frente, vinculado ao mestrado em Psicologia da Universidade Feevale e realizado pelos professores Eduardo Guimarães Camargo, Rogério Lessa Horta e Marcus Levi Lopes Barbosa e pelo acadêmico Pedro José Sartorelli Lantin. Ainda em desenvolvimento, a pesquisa selecionou funcionários indicados pelo Hospital Municipal de Novo Hamburgo (HMNH), referência no Sistema Único de Saúde (SUS) para o enfrentamento à Covid-19 no município e região.

Nesta primeira etapa, foram entrevistadas 63 pessoas, sendo 44 profissionais de enfermagem (36 dos quais, de nível técnico), 11 de medicina, um de fisioterapia e sete de apoio. Feito com metodologia mista, por meio de chamadas telefônicas ou chamadas de áudio ou vídeo pelo aplicativo WhatsApp, o estudo aplicou questionários de percepção de estresse e indicadores de saúde mental. Os profissionais também foram convidados a participarem de entrevistas em profundidade, que servirão, ainda, como oferta de escuta qualificada ao longo do período de enfrentamento.

A primeira série de entrevistas foi realizada entre os dias 13 e 20 de junho, o que corresponde ao final da Semana Epidemiológica (SE) 24 e o início da SE 26 – na qual o Estado contava com 25.608 casos, 3.430 hospitalizações e 591 óbitos e Novo Hamburgo, com 30,6 hospitalizações para cada 100 mil habitantes e 5,4 óbitos para cada 100 mil habitantes. Dos profissionais ouvidos, 71% são mulheres, 54 residem fora do município e 79,5% vivem com outras pessoas no mesmo domicílio. Na semana que antecedeu as entrevistas, os profissionais trabalharam 54,1h de trabalho, 35h das quais na linha de frente da pandemia.

Os dados mais preocupantes, de acordo com os pesquisadores, são os que indicam os níveis de estresse e cansaço mental: 40% dos profissionais apresentaram indicações de adoecimento psíquico, por meio de inventários de estimativa de Sofrimento Psíquico, e 41% tiveram nível elevado de Percepção do Estresse. Porém, o que causa mais atenção é o inventário de Burnout, que demonstrou que 60% dos entrevistados manifestaram escores compatíveis com exaustão, e 49%, distanciamento de suas atividades, que é indicativo de redução da capacidade de manter o envolvimento efetivo nas tarefas. Foram identificados 39,7% dos profissionais com escores elevados nestas duas últimas dimensões, o que é compatível com Burnout – que é um distúrbio emocional com sintomas de exaustão extrema, estresse e esgotamento físico resultante de situações de trabalho desgastante.

Cargas extenuantes e apoio nos colegas

Para os professores que conduzem o estudo, as condições específicas da atividade em linha de frente tornam as cargas semanais de trabalho ainda mais extenuantes. De acordo com o professor Rogério Lessa Horta, nas primeiras entrevistas em profundidade já analisadas, foram destacados longos plantões como característica do trabalho e sem intervalos devido à paramentação, que só pode ser retirada no final do turno.

Foram citados, como dificultando a atividade profissional, o uso de equipamentos de proteção individual por um longo período, o isolamento dentro do próprio hospital, pois não se pode acessar outras áreas como copa e banheiros, além do risco da própria contaminação do profissional, além temores e culpa relacionados às famílias, tanto pelo distanciamento, quanto pela proximidade, que aumenta a chance de contágio.” explica o professor Rogério Lessa Horta.

O que transparece nas entrevistas como alívio para os profissionais, e que pode ser um fator importante para ajudá-los a passar por esse momento, é a união das equipes, como um aspecto que favorece o desempenho no enfrentamento. Poucos estão em atendimento psicoterápico ou utilizam psicofármacos, mas várias solicitações de indicações de serviços de apoio ou atendimento emocional chegaram aos pesquisadores, o que apontaria para uma das futuras ações de enfrentamento do desgaste das equipes. “Inicialmente, recomenda-se avaliar a necessidade de priorizar repouso e intervalos, o que poderá exigir adequações de rotinas e espaços físicos, além de ampliar a oferta de apoio emocional às equipes”, diz Horta, completando que o estudo seguirá, pelo menos, até setembro, mas podendo ser estendido até novembro, a depender de como se comportar a pandemia.

Os números

Profissionais de saúde do Hospital Municipal de Novo Hamburgo – 63

  • 71 % mulheres
  • 54 % residentes fora de NH
  • 79,5 % vivem com outras pessoas no mesmo domicílio

Covid-19

  • 48% informaram terem sido testados
  • 13% possuíam, no momento da entrevista, sintomas compatíveis com a Covid-19
  • 8% testaram positivo para Covid-19
  • 29% apresentam comorbidades consideradas como risco aumentado em caso de Covid-19

Estresse percebido e saúde mental

  • 40% com indicações de adoecimento psíquico
  • 41% possuem nível elevado de percepção de estresse
  • 49% indicam distanciamento de suas atividades
  • 60% possuem escores compatíveis com exaustão
 

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